sábado, 23 de agosto de 2008

Releitura de outrem ou a saga da lingua








Andávamos como se não soubéssemos para onde iríamos, olhava-me como se eu pudesse arrancar-lhe a alma, sentia frio e medo, talvez já nem mais andássemos, parecíamos vagar.
Estremeceu ao primeiro toque, e era só a minha mão indicando-lhe a porta de casa.
Soluçou ou disse algo inaudível, recuperou-se, mais já nem via uma porta, em sua frente enxergava criaturas intrépidas, pequenos diabos dançando e pedindo que entrasse. Não entrou.
O suor escorria pela pele, cheiros eram exalados, eram aromas de fome, uma fome reprimida, rasgada, percebemos que nossos cheiros denunciavam-nos. Deu um passo para trás.
Ousei tocar-lhe novamente, precisava que entrasse, mais os diabos ainda cantavam, ainda contorciam-se em coreografias, havia o medo... Respirou fundo. Um passo.
Tendo deixado para trás os diabos, já do lado de dentro, colocou-se sobre mim, na TV alguém era ameaçado de morte, lá fora algum cão latia, aqui dentro um corpo era cercado, explorado, reduzido a desejos e a bestialidades.
Foram oferecidos angustias, temores, inexperiências, noites mal dormidas, todos os sabores e tudo mais que queimava. Aceitei.
Amamos-nos, ou antes, lutamos, brigamos por nossos poros, através do tempo que nos acolhia, brigamos por Baco e Afrodite, pelos diabos na porta, línguas tentavam abrandar lábios em brasa tendo por testemunhas um exército de mil ditosos, nos destruímos. Caímos de prazer.
Caí com seu gosto na boca, caiu cantando a canção dos diabos, deitei e acendi um cigarro, dançou sobre meu corpo abandonado

2 comentários:

Aila Esteves disse...

Di...muito bom!
Além de ditoso,ótimo escritor...


beijo nego

Anônimo disse...

forte, sedutor e inebriante...